Marco Ferreira
CEO da Enging
A economia tecnológica, fortemente impulsionada pelas startups, tem vindo a conhecer um crescimento notável nos últimos anos e as perspetivas apontam para uma consolidação e reforço deste mesmo crescimento, dado o papel e importância cada vez maiores que as novas soluções tecnológicas têm assumido nas empresas de diversos setores. Por isso, é natural que a procura por profissionais especializados nas áreas da engenharia, robótica, internet of things, entre outros, venha a aumentar e que, em alguns casos, a oferta não seja suficiente para suprir a procura.
Para quem termina um curso superior em áreas como a Engenharia Eletrotécnica, Computação ou Eletrónica, à primeira vista, um emprego numa grande empresa pode parecer tentador por proporcionar um horário de trabalho fixo, um pacote salarial atrativo complementado com vários benefícios e, sobretudo, pela estabilidade que quase todos procuram. Contudo, as perspetivas de evolução na carreira podem não parecer tão promissoras quanto se estaria à espera (ou mais lenta do que desejamos).
Por isso, embora inicialmente o cenário de ingressar numa startup pareça mais desafiante, abraçar um projeto quase do zero pode ser uma boa opção para quem quer ir mais longe. Além de obrigar a uma maior versatilidade e polivalência, trazendo rápido crescimento, maturidade e um conhecimento mais abrangente, nos primeiros tempos o ritmo de trabalho pode ser alucinante, mas acredito que pode ser muito recompensador participar e fazer parte de um projeto a ganhar forma e ajudá-lo a transformar-se num negócio. E isso pode ser bem mais estimulante do que cumprir, todos os dias, o mesmo horário, a lista de tarefas que nos é atribuída, sem a possibilidade de poder sair da zona de conforto.
Em Portugal, no que a empresas tecnológicas diz respeito, Lisboa e Porto são vistas como os grandes pólos da inovação e da economia tecnológica. É verdade. Mas há mais futuro para lá das duas principais cidades do país. Um futuro que será diferente do que podemos encontrar no litoral, porventura mais enriquecedor e potenciador de um maior crescimento profissional. Isto porque uma startup do interior pode ser bem diferente de uma startup localizada no litoral do país. No interior, também se conhece o léxico de que fazem parte expressões como blockchain, inteligência artificial ou algoritmos.
A escolha da Covilhã, por parte da PT, para aí instalar um dos maiores data centers do mundo (num investimento aproximado de 90 milhões de euros), bem no interior de Portugal, é suficientemente reveladora do potencial destas regiões para a economia tecnológica e de que o interior também dispõe de capacidade e recursos para receber o setor. No interior – e sobretudo na indústria, como é o caso da Enging, que faz manutenção preditiva sobretudo para utilities, centrais nucleares e outras indústrias, como de pasta de papel ou petroquímica – grande parte do trabalho passa por ir para o terreno, pôr verdadeiramente as “mãos na massa” e compreender melhor a realidade à qual se pretende dar resposta. Na Enging, somos a prova de que o trabalho de campo também se pode aplicar aos físicos, engenheiros eletrotécnicos, eletrónicos, mecânicos, informáticos e de robótica e esta maior proximidade à realidade, onde são implementadas as soluções que a indústria tecnológica cria, permite nos desenhar uma resposta mais ajustada e adaptada às necessidades dos clientes.
O futuro passa, sem dúvida, pelo interior do país. Nele existem condições para acolher o ecossistema tecnológico, existem universidades com valor reconhecido, existem pessoas com vontade e ambição. Porém, grandes projetos não se constroem apenas com pessoas locais, é preciso ideias e personalidades vindas de fora, com outras experiências, com outros olhares, que tragam novos horizontes e que acrescentem valor. Assim como foram precisas pessoas de fora para impulsionar o setor tecnológico nos grandes centros urbanos do litoral, também o interior precisa de pessoas de fora para estimular o seu potencial e afirmar o seu valor e relevância no ecossistema tecnológico nacional.
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